sábado, 3 de novembro de 2012

O STF PODE ESTAR SALVANDO A POLÍTICA BRASILEIRA.



     Talvez poucas pessoas estejam percebendo, mas estamos vivendo um momento histórico para a justiça brasileira. E esse momento será fundamental para a política, sobretudo para as novas gerações. Com o iminente desempenho do Supremo Tribunal Federal, que classifico como brilhante e inovador, poderemos dar um incentivo extra para que pessoas de bem e os jovens se interessem mais por política.
      No julgamento da Ação Penal 470, conhecida como “Mensalão do PT”, o STF vem desconstruindo teses jurídicas dos principais escritórios de advocacia do país acostumados a defender criminosos do “colarinho branco”.  Nem mesmo o ex-ministro da justiça e renomado jurista, Márcio Tomaz Bastos, conseguiu ver suas teses acolhidas pela superior corte brasileira. Podemos conjecturar com certeza que haverá uma revolução na forma de julgar os crimes praticados por políticos corruptos em todo o país, desde os tribunais inferiores. Isso acende uma luz no fim do túnel. Quem imaginou ver o que estamos prestes a ver, dentre outros: um político famoso como José Dirceu, a cúpula de um banco ou um importante empresário como Marcos Valério atrás das grades. Parece mentira ou utopia, mas com certeza será um dia histórico para o país. Nada pessoal, mas já passou da hora de cadeia ser lugar apenas de negro e/ou pobre.

A opinião dos especialistas.

      Especialistas ouvidos pelo G1 avaliam que julgamento do mensalão, maior da história do Supremo Tribunal Federal (STF), representa um divisor de águas no Judiciário brasileiro, mostrando que é possível julgar livre de pressões políticas, de forma rápida e eficaz a todos, do mais humilde ao mais alto escalão, alterando a lógica de impunidade nos chamados "crimes do colarinho branco".

Nelson Calandra, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB): "Acho que essa deliberação do Supremo, no exercício da sua competência originária, agindo como primeira e última instância, traça uma orientação nova para a deliberação de vários tribunais do Brasil, na medida em que adota a teoria do domínio do fato e isso faz toda a diferença no modo de julgar. Aqueles que são protagonistas dos órgãos de cúpula são responsabilizados por um ato porque se teria como impedir a ocorrência desse tipo de fato criminoso. Na verdade, no Brasil, sempre esse tema do caixa 2 foi banalizado. E só agora que o Supremo adotou uma posição dura sobre isso. De sorte que é muito positivo, passar a limpo a atividade política, eliminar essa questão do caixa 2. No fundo os políticos imaginam que tudo podem. A partir desse calvário eles vão repensar em tomar uma atitude como essa que lhes foi imputada na ação penal 470. Os debates mostraram que o STF tem agido democraticamente. O Brasil tende a passar a limpo várias coisas que ficaram no passado."

Márlon Reis, juiz de direito no Maranhão, co-fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE): "Representa um divisor de águas, porque o Brasil não está acostumado a ver sequer um julgamento efetivo de pessoas que detêm posições privilegiadas. E agora vê um julgamento independente, que não se curvou a posições políticas. Não consigo ver nesse julgamento nenhum tipo de pressão inidônea, porque os ministros estão acostumados a lidar com a opinião pública, com as divergências. Fico feliz com toda a independência. Está servindo para a uma abertura de precedentes, no enfrentamento da corrupção em matéria penal e abre espaço para uma jurisprudência. A maior lição é que o Judiciário precisa enfrentar com brevidade e muita independência todos os processos, envolvam quem for. A história que vemos é de muita leniência ao julgar pessoas poderosas. Essa é a quebra de paradigma para que as normas sejam respeitadas por todos."

Luís Roberto Barroso, advogado especialista em Direito Constitucional: "O comentário que posso fazer é sobre o que eu acho que esse julgamento representa institucionalmente para o Brasil. Eu acho que o julgamento mais do que a condenação de pessoas, ele é a condenação de um modo de fazer política, que tem marcado toda a República brasileira. Trata-se da condenação de um sistema eleitoral e partidário que faz o contrário do que se espera do processo civilizatório: ele exacerba os defeitos e reprime as virtudes. O julgamento, portanto, significa um momento desesperado da sociedade brasileira por reforma política. É preciso diminuir o peso do dinheiro e elaborar uma fórmula em que a eleição presidencial seja capaz de produzir também maioria no parlamento. O varejo da negociação política para a formação de maiorias que induz o fisiologismo e a corrupção. Este julgamento é tão excepcional nas suas circunstâncias que é difícil avaliar as suas consequências no plano jurídico."

Temos que ser otimistas.

      A despeito da política podre vivenciada atualmente, sou um otimista convicto, que ainda tenho fé que verei um político que praticou ou praticará corrupção em nossa cidade condenado, pois acredito na justiça. Acredito na justiça e, agora, ainda mais, com esse julgamento do STF. Mas, o maior legado desse julgamento será um maior interesse da juventude pela política. É imperativo que a nova geração assuma seu papel dentro da sociedade, entrando na política e exigindo a urgente reforma eleitoral.


(*) Eletrotécnico formado pelo Cefet-MG; Formado em Direito pela Faculdade Doctum,  habilitado pela OAB/MG; Especialista em Direito Público pela Universidade Cândido Mendes/Plenarius; Oficial de Justiça Avaliador do TJMG e colunista do GLN. Obs.: Os depoimentos dos juristas foram extraídos do site g1.globo.com.